O povoado dos Perdigões, ocupado entre os anos 4000 e 3000 a.C., é um dos temas do colóquio internacional Recintos da Pré-história Recente e Práticas Funerárias, organizado a partir de hoje e até dia 8 de novembro, pelo Núcleo de Investigação Arqueológica da ERA Arqueologia com o apoio do Município de Reguengos de Monsaraz.
Este colóquio vai decorrer na Fundação Calouste Gulbenkian, em Lisboa, e integra no dia 8 de novembro uma visita ao complexo arqueológico dos Perdigões, em Reguengos de Monsaraz.
As problemáticas dos recintos definidos por muros ou muralhas e por fossos têm estado frequentemente no centro de vários debates relativos às comunidades da pré-história recente peninsular. Entre as inúmeras questões que levantam, um dos aspetos que tem vindo a emergir nos últimos anos com particular relevo é o da relação direta que estes recintos terão tido com as práticas funerárias, a ponto de, em alguns casos, se diluir a noção de necrópole como espaço dos mortos bem demarcado em relação ao dos vivos e onde situações semelhantes têm gerado questões e respostas distintas.
Nos últimos anos têm existido importantes novidades na Península Ibérica no que respeita a estes contextos e à expressão que a realidade funerária neles assume, com o recinto dos Perdigões a transformar-se num projeto âncora nesta matéria. Por isso, a ERA Arqueologia, que há mais de uma década desenvolve campanhas de escavação no complexo arqueológico dos Perdigões, vai organizar este encontro internacional que reunirá um conjunto de investigadores de vários países europeus onde esta temática assume particular relevo.
Tratando-se de um fenómeno de dimensão europeia, entendeu-se que a abordagem dos casos peninsulares necessitaria de um enquadramento e uma confrontação com realidades aparentadas de outras regiões europeias, procurando promover o debate a diferentes escalas e a partir de diferentes contextos, experiências e posicionamentos teóricos.
O povoado dos Perdigões situa-se a cerca de um quilómetro de Reguengos de Monsaraz e é um grande complexo de recintos genericamente circulares e concêntricos, definidos por grandes fossos escavados no subsolo, ocupando uma área superior a 16 hectares. Iniciado no final do Neolítico, há cerca de 5.500 anos, prolongou-se durante toda a Idade do Cobre e chegou ao início da Idade do Bronze, há 4.000 anos, altura em que ocorreram profundas mudanças sociais e cosmológicas que levaram ao seu abandono. O local terá assumido desde o início um importante papel na gestão das identidades locais, tornando-se num sítio de encontro para práticas ritualizadas.
Algum do material recolhido no povoado dos Perdigões está em exposição na torre medieval da Herdade do Esporão.