Na edição desta semana do “Ambiente em FM”, José Janela, da Quercus, revela qual a importância de se proteger esta espécie, muito abundante, noutros tempos, em Portugal: “ao protegermos essa espécie, em Portugal, estamos a proteger os ecossistemas dessa espécie não só em Portugal, como noutras regiões da Europa e também em África. Esta espécie liga e faz parte dos ecossistemas dos dois continentes”.
A rola-brava (Streptopelia turtur) é uma espécie protegida no âmbito da Diretiva Aves (Diretiva 2009/147/CE) e considerada ameaçada pela União Internacional de Conservação da Natureza (UICN). “É uma espécie migradora – todos os anos estas aves atravessam duas vezes o deserto do Saara nas suas viagens entre a Europa e África. Outrora extremamente abundante em Portugal, a rola-brava apresenta no país e na Europa em geral uma tendência fortemente regressiva desde há várias décadas”, adianta José Janela.
Na época venatória de 2021-2022, Portugal, “num esforço conjunto com França e Espanha, proibiu temporariamente a caça da rola-brava”, medida que se prolonga agora para as épocas venatórias 2022-2023 e 2023-2024. Estudos demonstram que “a caça praticada durante a sua migração em países como França, Espanha e Portugal é insustentável, apesar de alguma redução recente da pressão da caça. A retirada da rola-brava da lista de espécies que se podem caçar para as duas próximas épocas venatórias mostra bom senso e articulação nas estratégias definidas por diferentes Estados Membros e setores. Mas não é suficiente”, assegura.
O Memorando de Entendimento para a Conservação e Recuperação da Rola-brava, que juntou Organizações Não Governamentais de Ambiente, como a Quercus, e Organizações do Setor da Caça, em estreita articulação com o ICNF, assinado em 2019, “foi o primeiro passo da jornada para contrariar o declínio das populações da espécie”.
Satisfeita com esta medida de suspensão da caça à rola-brava, a Quercus “congratula o ICNF e o Secretário de Estado da Natureza e das Florestas pela decisão tomada e apela aos Ministérios do Ambiente e da Agricultura para colaborarem na implementação de medidas efetivas de conservação e de gestão no terreno. Se é verdade que a exploração cinegética exerce pressão sobre as populações de rola-brava, não é certamente a única causa do seu declínio, que está também associado à diminuição e perda de qualidade do habitat, quer de alimentação quer de nidificação”.
Assim, para se alcançar o tão desejado objetivo de recuperação da rola-brava, a Quercus “apela a que o Ministério do Ambiente e o Ministério da Agricultura desenvolvam uma estratégia articulada para a promoção de uma gestão sustentável do habitat. Desenhando medidas concretas e ajustadas e disponibilizando instrumentos, incluindo financeiros, para a sua aplicação no terreno”, diz ainda José Janela.