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Aumento “louco” do preço do gasóleo agrícola deixa agricultores em “desespero”

José Eduardo Gonçalves, vice-presidente da CAP

Com a subida dos preços do gasóleo agrícola, que tem vindo a escalar, nos últimos meses, os agricultores enfrentam sérias dificuldades e graves prejuízos, como não há memória.

O preço deste tipo de gasóleo – o chamado gasóleo colorido -, na passada sexta-feira, 24 de junho, estava situado em 1.839 euros o litro, enquanto, no mesmo dia, em 2020, há dois anos, custava 0.984 euros. “É realmente dos fatores de produção, para além de outros, como a eletricidade e os fertilizantes, que subiu de uma maneira louca e que está a causar graves problemas e prejuízos aos agricultores”, garante o vice-presidente da Confederação dos Agricultores de Portugal (CAP), José Eduardo Gonçalves. Caso o Governo não tome medidas, o quanto antes, a situação será “preocupante”, estando, nesta altura, os agricultores numa situação de “desespero”.

No caso da energia, em alguns casos, o aumento chega a ser de 500%, adianta o responsável, uma vez que “havia negócios com preços fixos, que deixaram agora de estar”. Quanto aos fertilizantes, a subida de preços regista-se “entre os 100 e os 150%”.

Apontado o dedo ao Governo, José Eduardo Gonçalves garante que o mesmo tem consciência da situação, que tem prometido “fundos e mundos”, mas que, até ao momento, “tem feito zero”. “Até agora, ao bolso dos agricultores, não chegou um euro, nem da seca que assolou este país durante o ano de 2021, nem da pandemia, durante estes três anos, nem da guerra na Ucrânia. São só coisas pontuais de crédito que nós não queremos, queremos é ajudas reais, como os espanhóis têm”, assegura.

Perante esta difícil situação, o vice-presidente da CAP não tem dúvidas que muitos dos agricultores não vão conseguir continuar a produzir, até porque têm de “trespassar estes valores de custo de produção para o consumidor”. “Vai ser muito complicado e não sei o que é que vai acontecer”, acrescenta.

José Eduardo Gonçalves lamenta ainda que os preços praticados, ao nível dos combustíveis agrícolas, seja superior, em cerca de 50 cêntimos, no continente, em comparação com as ilhas. “Parece que não vivemos no mesmo país. Isto é inacreditável e inadmissível. Eu não quero os madeirenses e os açorianos paguem mais, mas quero que os agricultores do continente paguem mais barato”, diz ainda, não escondendo que a neutralidade fiscal já seria “uma grande ajuda”. “Não faz sentido nenhum continuarmos a pagar um imposto que o Estado cobra sobre os combustíveis (ISP), porque é um imposto que, tal como fizeram para as pescas e isentaram o ISP, eu acho que para a agricultura devia-se fazer o mesmo”, comenta.

As ajudas do Governo, até ao momento, diz ainda José Eduardo Gonçalves, não têm passado das promessas, lembrando que Portugal continua “na cauda das ajudas da Europa”. Ainda assim, a 30 de junho, o Estado irá antecipar uma ajuda que seria atribuída aos agricultores em outubro. “Não é muito, mas já é qualquer coisa”, diz anda, por mais que considere este “mais um problema de tesouraria, do que um problema de ajuda”. “Mas ficamos à espera, porque estamos numa situação desesperada”, remata.

Também recentemente, a Confederação Nacional das Cooperativas Agrícolas e do Crédito Agrícola de Portugal defendeu ser “imoral” as constantes subidas de preço no gasóleo colorido, afetando “de forma insustentável” a atividade, pedindo, por isso, um travão aos aumentos. Esta situação, garante a confederação, afeta “de forma insustentável” a atividade de um setor “estratégico e imprescindível, tanto do ponto de vista económico como social”.

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