Fome e más condições de habitação denunciadas por jogadores do Estrela de Portalegre

estrela_PortalegreDavi, atleta profissional, natural do Rio de Janeiro (Brasil), chegou a Portalegre, em Janeiro, com o sonho de “estar na vitrina” e destacar-se “em clubes grandes”. Mas algum tempo depois percebeu que a realidade não era essa. “Eu estive a residir na sede do clube durante 15 dias, até encontrar uma casa para mim, e deu para ver que a alimentação não era aquela que um atleta devia ter. Quando comíamos uma bifana era um dia maravilhoso porque a nossa alimentação era sempre à base de massa, arroz e atum”.

O jogador de futebol ouviu muitas “vezes os colegas queixarem-se de que o salário estava atrasado. Muitas vezes ajudei os meninos a comprar medicamentos e a carregar o telemóvel para poderem falar com a família”.

“Quando vim para cá informei que não me preocupava com o salário. Se todos recebessem eu queria receber mas se os outros não recebessem eu também não me importava”, garantiu. “O dinheiro era sempre uma promessa. Ele (Sérgio Daniel) dizia sempre que ia pagar e nunca pagava”.

Com apenas 22 anos, Vazilen, nasceu na Moldávia e jogou durante 6 meses no Estrela de Portalegre. “Ao princípio esta experiência foi muito boa pois diziam-nos que a equipa ia subir e que íamos ter boas condições mas ao fim de algum tempo começámos a ver que faltavam muitas coisas. Nós dormíamos num alojamento, com mais 13 ou 14 colegas, onde muitas vezes faltava comida”.

“Eu acabei por sair quando o clube suspendeu a equipa sénior. Durante seis meses recebi apenas um mês. Ele (Sérgio Daniel) prometia, prometia mas nunca pagava. No final ainda falei com ele para pagar tudo mas foi-me dito que ainda não tinha o dinheiro”.

Vasilen garantiu-nos que “nunca assinou nenhum contrato para jogar no clube, assinei apenas a ficha de jogo para uma época”.

No caso do Bruno, residente e natural de Portalegre, nunca precisou de recorrer ao alojamento cedido pelo clube. “Eu jogava no Arronches mas já conhecia os jogadores de elite que o Sérgio Daniel tinha trazido para Portalegre porque treinava com eles. Depois, quando a época começou, convidaram-me para jogar e eu aceitei”.

“No início, os atletas até tinham condições normais, tinham uma cozinheira que lhes fazia a comida e a limpeza do local onde eles estavam. Era tudo muito bonito. Mas a situação começou a descambar. A senhora deixou de lhes ir fazer a comida e eles passaram a ter que fazer a limpeza da casa”. Bruno garante que “todos os jogadores saíram de livre vontade, nenhum foi dispensado”.

“Eu quando fiquei a conhecer o projeto achei que era uma ideia bastante boa porque ia ajudar o Estrela a ser visto a nível nacional e, ao mesmo tempo, ajudava os miúdos a singrar no mundo do futebol. A questão é que eles não são máquinas, eles precisam de estar bem a nível físico e psicológico para poderem dar o melhor em campo”, sublinhou. “A mim devem-me quatro meses de salário. Dissera-me que o dinheiro haveria de vir mas nunca chegou”.

Os jogadores, provenientes da África do Sul, Cabo Verde e Brasil, entre outros, eram escolhidos por Sérgio Daniel, da Elite Sports Group. “Nós temos um português no alojamento, que tem família aqui em Portalegre. Então se as condições fossem assim tão más será que ele preferia estar no alojamento do clube em vez de estar com a família?”.

“A única situação que nos aconteceu foi com o Etoo que, supostamente, teria que regressar a África por causa do visto e como já tinha marcado cinco ou seis golos aqui em Portugal achou que já devia jogar na primeira liga e foi para outros lados sem dar conhecimento a nós ou ao empresário. Acho esta situação toda muito estranha”, referiu.

No que diz respeito à questão dos ordenados, Sérgio Daniel, diz que existiram “algumas dificuldades, entre Novembro e Janeiro, devido à situação política da Nigéria e não conseguimos pagar as ajudas de custo e digo ajudas de custo porque como toda a gente deve saber, no futebol distrital não há salários”.

Do outro lado da história está também Carlos Augusto, capitão da equipa do Estrela de Portalegre, que garante que “num alojamento onde só residem homens é normal que haja bagunça mas temos a senhora que faz a limpeza duas vezes por semana”.

“Os atrasos nos pagamentos deveram-se à situação política da Nigéria mas eles deram-nos a garantia de que este mês ia ficar tudo resolvido e nos iam pagar os salários e tratar de legalizar a nossa situação”, referiu.

Durante dois anos e meio, até Janeiro deste ano, chegaram a Portalegre 23 jogadores estrangeiros: 12 brasileiros, seis nigerianos, quatro sul-africanos e um cabo-verdiano.

Atualmente, Davi, continua por Portalegre, sem clube e Vasilen treina em Odivelas.