Hugo Capote: “médicos não estão a fazer greve, estão a cumprir as 40 horas semanais”

Todos os elementos do Serviço de Cirurgia Geral do Hospital de Portalegre apresentaram a sua indisponibilidade para realizar mais horas extraordinárias este ano, o que tem comprometido o serviço de cirurgia, nas urgências do Hospital Dr. José Maria Grande, em Portalegre.

Hugo Capote, presidente do Conselho Sub-Regional de Portalegre da Ordem dos Médicos, revela que “todos os elementos comunicaram, ao Conselho de Administração, a sua indisponibilidade para fazer mais horas extraordinárias, para além das 150 horas que já fizeram, há muito tempo, a partir daí a escala de cirurgia do Hospital Dr. José Maria Grande não consegue ser totalmente preenchida, ou seja, conseguimos assegurar a urgência interna – a observação de todos os doentes que estão internados e são operados de forma programada – mas não conseguimos assegurar que haja um cirurgião na urgência, para ver os doentes que vêm de fora, daí que haja um constrangimento e, estes doentes sejam encaminhados para outros hospitais”.

Hugo Capote adianta ainda que em Elvas a situação não sofreu alterações, pelo que se houver uma cirurgia de urgência pode ser realizada, ao contrário do que acontece no Hospital Dr. José Maria Grande, em Portalegre, em que “não há qualquer cirurgião para assegurar a urgência”.

Esta indisponibilidade dos médicos cirurgiões, em fazer mais horas extraordinárias é explicada por Hugo Capote: “está relacionado com duas questões, por um lado a revisão da tabela salarial dos médicos e progressão na carreira, em que os sindicatos e o Ministério estiveram 16 meses a negociar, sem empenho do Ministério, uma vez que os médicos perderam 30% do seu salário, nos últimos dez anos”.

Esta situação é compensada com horas extraordinárias, para que os médicos “tenham salários dignos, para compensar o que o Governo não paga, no salário base”.

Hugo Capote diz ainda que os médicos de cirurgia do Hospital de Portalegre, “já ultrapassaram as mil horas extraordinárias, este ano, do limite de 150 que estão estipuladas, ou seja, são mais quatro meses do que o tempo normal de trabalho”.

Os sindicatos não chegaram a acordo e, segundo Hugo Capote, de “forma unilateral, o Ministério propôs um decreto que tem questões inaceitáveis, para os médicos, como o descanso compensatório quando fazem 24 horas de urgência, entre outros, e esta luta surge para mostrar ao ministério que não pode romper negociações com os sindicatos quando não chegam a acordo e, de forma unilateral, colocar cá fora um decreto que é atentatório dos direitos das condições de trabalho dos médicos”, explica.

O presidente do Conselho Sub-Regional de Portalegre da Ordem dos Médicos, garante ainda que os médicos “não estão a fazer greve, estamos apenas a cumprir exatamente o nosso horário de trabalho, que são 40 horas semanais e, ao cumpri-las, a urgência do hospital não tem capacidade para responder às necessidades, não consegue colocar dois médicos cirurgiões, na urgência”.

Sabe-se que esta quinta-feira, 19 de outubro, os sindicatos vão reunir com o Ministério da Saúde com o objetivo de perceber se haverá ou não um entendimento, relativamente às reivindicações dos profissionais de saúde.