São vários os professores do Agrupamento de Escolas de Campo Maior que estão esta sexta-feira, 14 de janeiro, em greve, tendo-se manifestado, esta manhã, em frente à escola secundária da vila.
Sem a real noção da quantidade de docentes a fazer greve, quando contactado pela Rádio Campo Maior, por volta das 9h30, o diretor do agrupamento, Jaime Carmona, garante que esta ação acabou por causar algumas perturbações no decorrer habitual das atividades letivas, até porque é isso mesmo que se pretende.
Os professores têm vindo, nestes últimos dias, a lutar, de norte a sul do país, contra a precariedade na carreira e as propostas do Governo para a revisão do regime de recrutamento. Para Jaime Carmona, a escola pública tem de ser defendida “no seu todo” e há situações que têm de ser, “de uma vez por todas”, resolvidas pelo Governo, que, segundo diz, tem estado a “empurrar com a barriga para a frente” problemas que, relativamente à classe docente, são, sobretudo, de carreira. “Se é que existe, hoje em dia, uma carreira de professor”, acrescenta.
Dizendo-se “muito orgulhoso” do grupo de professores com que o Agrupamento de Campo Maior conta, atualmente, Jaime Carmona assegura que os docentes “precisam de ser ouvidos”, ainda que tenham tido sempre, perante todas as dificuldades, “uma posição muito digna e profissional”. “O mais fácil era um relaxe total e a escola pública não teria qualidade nenhuma”, garante.
Apesar da posição que ocupa hoje em dia, o diretor revela que também ele tem sofrido na pele este desinvestimento do Governo na educação, uma vez que continua sem conseguir subir de escalão e, com isso, progredir na carreira.
A cada vez que vê os seus colegas de profissão a manifestarem-se, Jaime Carmona diz, por um lado, “arrepiar-se” e, por outro, ter “um sentimento de impotência” perante uma “situação que tem de ter um desfecho positivo”.
Recordando as palavras do ministro da Educação, que considera que os professores “não são um grupo especial para terem medidas especiais”, Jaime Carmona garante que os docentes também não se sentem especiais, mas que são “uma classe importante” e que, com estas greves e manifestações, só têm procurado pedir o que é justo. “Temos direito à nossa reivindicação e, realmente, não estamos a pedir nada. Eu, com 25 anos de serviço, estou num quarto escalão de dez escalões que existem. Quando entrei na carreira, ao fim de 25 anos, os professores atingiam o topo de carreira. Isto é uma miragem para mim e para os meus colegas”, revela.
Jaime Carmona diz ainda ser necessária “coragem política” para que haja um “sinal de mudança” e para defender a escola pública, quando “há um role de situações que precisam de ser alteradas”.
As colocações são também, todos os anos, um problema, para o Agrupamento de Escolas, mas sobretudo para os professores que são obrigados a mudar-se, de malas e bagagens, de várias partes do país, para lecionar em Campo Maior: “temos esse problema e temos um problema consequente que, tendo em conta essas situações, vamos tendo dificuldades em arranjar alguns professores para colmatar, quer falhas, desde o início do ano, quer falhas que vão existindo ao longo do ano, por causa das doenças dos nossos professores”.
Confessando ter-se sentido “ofendido” pelo primeiro-ministro, quando António Costa terá dado a entender que os professores são “burros”, Jaime Carmona assegura que os docentes são “tudo menos isso”, tendo esperança que, depois destas manifestações, o chefe do Governo possa ter “uma palavra diferente”.
De recordar que, desde a passada terça-feira, a Fenprof tem vindo a promover um acampamento junto ao Ministério da Educação, em Lisboa. Amanhã, dia 14, o sindicato STOP organiza uma marcha em Lisboa pela escola pública, enquanto a Fenprof convocou uma grande manifestação de professores para dia 20, à porta do Ministério da Educação.
Entretanto, e em nota de imprensa, o Sindicado dos Professores da Zona Sul (SPZS) revela que esta greve contou com “a participação de dirigentes, delegados e ativistas do SPZS, os professores exigem que o Ministério da Educação abandone as suas intenções de alterar o regime de concursos e, exigem ainda, a abertura de um processo negocial sobre as restantes matérias de resolução urgente: carreira, aposentação, precariedade, horários e condições de trabalho”.
Concursos justos, segundo o sindicato, “não se compadecem com um modelo em que a ideia é precarizar, desterrar e bloquear o direito dos professores a viver com as suas famílias e qualquer mobilidade entre regiões e aproximação às suas residências”.